Eu nunca tive o costume de falar sozinha, pelo menos não até esse ano.
Em uma das minhas últimas sessões de terapia, comentei o quanto muitas vezes falava coisas rotineiras sobre o meu trabalho para o meu marido que, na verdade, ele não teria que ouvir, mas que eu não tinha com quem dividir. Foi aí que percebi o quanto estava não só o ‘atolando’ de coisas desnecessárias, mas como a nossa comunicação foi ficando desgastada – ele logo associava que o que eu ia falar em qualquer situação não seria lá muito relevante.
Até que nessa mesma sessão, minha terapeuta me questionou se eu já experimentei falar sozinha – a própria terapia cognitiva é meio que isso porque, no meu caso, eu falo muito em voz alta e tiro conclusões só que com uma profissional me ouvindo e, claro, orientando e dando os pitacos necessários. A resposta que dei foi um ‘não’ e, portanto, e saí de lá com a lição de casa de praticar mais vezes tal ‘atividade’.
Hoje, não é raro ver pessoas andando pela rua com seus ‘airpods’ nos ouvidos ou até mesmo falando sozinhas diante da câmera do celular. Como resultado da tecnologia, as pessoas que costumavam falar sozinhas são liberadas da opinião julgadora do que soou sempre estranho, maluco ou incorreto.
Para os psicólogos, o ato de falar sozinho chama ‘conversa própria externa’ (external self-talk), diferente do ato de ‘falar consigo mesmo em sua cabeça’ (self-talk), e muitas pessoas o fazem, sendo cada vez mais visto como normal (dentro de certos limites) e até mesmo benéfico. Isso porque, quando falamos com nós mesmos, estamos tentando observar as coisas com mais objetividade e ganhar distância de nossas próprias experiências, de acordo com Ethan Kross, um professor de Psicologia da Universidade de Michigan.
E por que seria útil tal distância? Bom, é só pensar nas razões que nos tornam capazes de aconselhar – não somos sugados por determinados problemas externalizados por outros, pois a distância psicológica ajuda, de modo que conseguimos pensar com mais clareza por termos distância da experiência. Portanto, se você estiver esgotado e precisar de uma conversa motivadora, você pode pensar em fazê-la na segunda ou terceira pessoa, o que pode ajudá-lo a olhar a situação de uma perspectiva lógica e objetiva, em vez de uma perspectiva emocional e tendenciosa.
Além da autoconversa motivacional, falar sozinho em voz alta e instrutivamente pode acelerar as habilidades cognitivas em relação à resolução de problemas e ao desempenho de tarefas.
E aí, te convenci a falar sozinho?