Você já parou para pensar no que sentimos na hora da morte? Eu confesso que não sou uma pessoa que pensa muito na morte – tenho mais medo de perder do que ir, mas essa semana me deparei com uma matéria a respeito disso e resolvi refletir.
De um lado, a ciência. De outro, o religioso, cultural e filosófico. A descrição médica mais antiga de uma experiência de quase morte, do século XVIII, conta a história de um farmacêutico francês que perdeu a consciência durante a coleta de sangue, um tratamento que os médicos acreditavam na época, que servia para aliviar a febre. Ele se lembrou “de uma luz tão pura e extrema que ele pensou estar no céu”.
O best-seller ‘The Five People You Meet in Heaven’, Mitch Albom, foi inspirado em Eddie, um veterano da II Guerra, e tio do autor que acredita ter tido uma experiência de quase morte em que presenciou sua alma sair de seu corpo e flutuar sobre a mesa de cirurgia. Ele olhou para os médicos e sua forma física na Terra. E ele viu, reunido ao seu redor, todos os seus parentes mortos esperando por ele. Seria essa a experiência que podemos vivenciar?
Um dos maiores estudos feitos até hoje sobre a experiência de ‘quase-morte’, chamado Aware, publicado em 2014 na revista Ressuscitation, envolveu 140 pacientes que tiveram uma parada cardíaca e foram salvos por tratamento médico. Quase a metade relata não lembrar de nada. Pouco mais de 40% relatam memórias detalhadas, como ver plantas ou pessoas ou sentir um medo intenso. Cerca de 9% relataram fenômenos compatíveis com experiências de quase-morte. De todas essas pessoas, duas se lembraram de ter visto ou ouvido suas próprias ressuscitações. Uma pessoa tinha uma memória realmente comprovável – relatando sentir que estava flutuando fora de seu corpo e descreveu com precisão os eventos de sua ressuscitação, incluindo o uso de um desfibrilador externo automático e a presença de um profissional médico careca que respondeu ao chamado de ajuda de uma enfermeira.
Em um outro estudo, publicado no periódico científico, Frontiers in Aging Neuroscience, pesquisadores conseguiram analisar, pela primeira vez, imagens de um cérebro exatamente na hora da morte. O paciente, de 87 anos, tinha epilepsia e estava realizando um exame de eletroencefalografia, quando teve um ataque cardíaco fulminante. Ali foi captado instantes antes e depois do momento da morte desse paciente e notou-se oscilações gama. Tais ondas gama também são associadas a fatores como a memória, meditação e aos sonhos humanos. Por exemplo, durante a fase de sono REM, em que há um relaxamento do corpo e alta atividade cerebral, essas ondas de alta frequência podem ser captadas.
A real é que sim, quando nos aproximamos da morte, parece que temos essas experiências transcendentais e místicas. Elas não são coerentes com ilusões; não são coerentes com alucinações e sugerem que a consciência pode ser mais complexa do que os especialistas pensavam.
Ao meu ver, o tema ainda é muito desconhecido e pouco abordado, mas quando em pauta, sempre ganha atenção de quase todo mundo – afinal, se não passamos nem perto de ter uma experiência de quase-morte, no mínimo temos a curiosidade de saber o que as pessoas que nos deixaram vivenciaram minutos/segundos antes de deixar esse plano. Para os interessados, existe um documentário na Netflix chamado ‘Surviving Death‘, que busca responder justamente tais perguntas: como é morrer? A morte é o fim da nossa existência?