Um amor chamado padaria

Um amor chamado padaria

Estou de passagem pelo Brasil (lembrando que moro em Londres) e me dei conta que toda vez que estou aqui, tudo o que eu quero é comer na padaria, independente do horário e da refeição. Por morar fora, sinto um amor ainda mais forte por elas, valorizando cada delícia – o queijo quente, a canoa, o misto na bisnaga doce, o sucão, pão de queijo e por aí vai…Mas afinal, você sabe como surgiram as padarias? Qual significado elas carregam para os milhares de brasileiros? Por que as amamos tanto? E a história do bom e velho pão francês? Bom, hoje chegou o dia de explorarmos tudo isso.

São 70.000 padarias espalhadas por todo o país, mas temos que admitir que é o verdadeiro amor dos paulistanos – só no estado de São Paulo, são 15.000. Para os cariocas, uma boa casa de sucos é suficiente, para os belo-horizontinos o bom e velho boteco não pode faltar. No balcão eclético de uma padoca, apelido carinhoso dado pelos paulistas, ‘me vê um pão na chapa e uma média, por favor!’, é costumeiramente falado por pessoas das mais variadas classes sociais, das mais distintas profissões e idades. O jeito de pedir também varia e muito, uns falam pão na chapa, outros prensado, canoa, o café pode ser com leite quente, leite frio, só a espuminha, ou seja, quando se trata de padaria, o céu é o limite e o mais legal? Os atendentes e chapeiros geralmente recebem a individualidade de cada pedido com amor e um sorriso no rosto.

‘Foi em Roma que elas começaram a tomar forma, com a criação das primeiras escolas de padeiro e dos primeiros comércios de pão. No século II a.C, os padeiros usufruíam de grande prestígio na sociedade romana, sendo até mesmo isentos de alguns impostos. No mesmo período, surgiu a primeira associação de padarias e panificadores de que se tem notícia. Acredita-se que muito do que os romanos sabiam sobre a produção de pães tenha sido absorvido da cultura grega, já que muitas padarias eram pertencentes a imigrantes gregos que viviam em Roma. E, com o conhecimento de mais de 70 receitas de pão, não era de se estranhar que a “política do pão e circo” tenha surgido por lá…’

A verdade é que a história das padarias é também uma história sobre o pão. ‘As primeiras padarias paulistanas surgiram capitaneadas por portugueses e italianos, que viram na tradição familiar de fazer pão uma oportunidade. Eles assavam e vendiam pães no próprio imóvel em que viviam e usavam carroças para fazer entregas em áreas mais distantes. Eram pães de fermentação natural, enormes, daqueles para serem consumidos ao longo de vários dias.’

Hoje, a cidade de São Paulo tem aproximadamente 6.000 padocas e o pão preferido é o francês. São assados 20 milhões deles todos os dias e o número de padeiros em atividade passa de 15 mil, segundo o Sindicato e Associação da Indústria de Panificação e Confeitaria de São Paulo (Sampapão). Criado entre o fim do século XIX e começo do XX, ele surgiu como um pedido de brasileiros que voltavam da França apaixonados pela confeitaria e panificação do país. Esses viajantes descreviam um pão que costumavam comer por lá, de casca crocante e dourada, miolo branco, cilíndrico, provavelmente um antecessor da baguete francesa.

Hoje, o pão francês já faz parte da família brasileira, ganhando diferentes nomes em cada parte do País. No Rio Grande do Sul é conhecido como “cacetinho”, enquanto no Ceará é chamado de “carioquinha”. No Rio Grande do Norte é também “pão d’água” e na Bahia, “pão de sal”. Já se você for ao litoral paulista, por lá é intitulado “média”. Para não ter erro, todo brasileiro conhece pelo nome “pão francês”.’

E por que as amamos tanto as padocas? Simples, a padaria é aquele lugar que permite você ir com qualquer um e em qualquer hora, tendo certeza de que vai encontrar a ‘larica’ perfeita para matar a fome.

Agora que devo ter te deixado com água na boca, vamos às dicas de algumas padocas em SP pra você se esbaldar:

  • Sem tempo pra perder: direto da calçada, os clientes da padaria Bâtard escolhem o que vão levar para casa através da vitrine voltada para a rua onde é possível ver os bons pães, folhados e doces disponíveis.
  • Para comer de joelhos: com duas unidades, uma no Itaim e outra nos Jardins, A Fornada, oferece pães produzidos com farinha orgânica, sem conservantes, através do processo de fermentação natural e de forma totalmente artesanal. Não deixe de pedir a rabanada que é divina.
  • Tradicionais brasileiros: comandado pela chef premiada Manuelle Ferraz, A Baianeira, é must go e fica dentro do museu de Lina Bo Bardi. No menu de café da manhã, servido aos domingos, você encontra os tradicionais brasileiros: pão de queijo, pães de fermentação natural, ovos mexidos, banana da terra com mel e amêndoas, iogurte da casa com mel, mamão e granola artesanal, bolos e cuscuz.

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