Vira e mexe me pego curtindo minha própria companhia – dançando no quarto enquanto me arrumo, tomando um café e colocando a leitura em dia, fazendo uma caminhada, indo ao cinema, tomando um bom vinho e vendo uma série, etc… Sou do tipo que não se incomoda em não ter planos T-O-D-O-S os finais de semana e confesso, às vezes, até crio ‘conflitos de agenda’ com as pessoas, porque é o jeito mais fácil de ficar na minha. Mas e você? Sabe se curtir e costuma tirar um tempo para si?
Não vamos confundir solidão com tempo sozinho. Inclusive na língua inglesa existem dois adjetivos, ‘alone’ e ‘lonely‘ que podem ser traduzidos como sozinho(a), porém são usados de maneira distinta. Pensando em entender o porquê é tão difícil para o ser humano apreciar o ato de ficar sozinho, vamos voltar um pouquinho no passado. Quando criança, se fazíamos algo errado, nossos pais nos mandavam para o quarto para ficarmos de ‘castigo’, sentados em silêncio. Na adolescência, ficar em casa sozinho em uma sexta-feira ou sábado à noite era ‘mico’ e errado – éramos considerados “perdedores” e nossos amigos perguntavam se estávamos bem.
Infelizmente, vivemos em uma cultura em que muitas vezes fazemos essa confusão, impactando a nossa capacidade de apreciar o tempo por nós mesmos e acabamos processando essa experiência como negativa. Fomos programados para acreditar que o ‘ato’ de ficar sozinho é nosso inimigo. Com tantas pesquisas por aí mencionando o quanto o ser humano é um ser social e se beneficia da interação com outras pessoas, tendemos a ignorar que passar um tempo sozinho também é de extrema importância.
Para os especialistas, estar sozinho pode beneficiar seus relacionamentos sociais, melhorar sua criatividade, confiança e ajudar a regular suas emoções para que possa lidar melhor com as situações adversas.
De fato, nos momentos em que estou comigo mesma, consigo me conectar melhor com os meus sentimentos, gostos e desejos, além de colocar os pensamentos em ordem. Porém, tenho muitas amigas que não conseguem passar 1 minuto sequer sozinhas… A realidade é que ‘nossa aversão a ficar sozinho pode ser bastante drástica: um quarto das mulheres e dois terços dos homens em um estudo da Universidade da Virgínia optaram por se sujeitar a um choque elétrico em vez de não fazer nada e ficar a sós com seus pensamentos.’
Imagino que para algumas pessoas, ao estarem sozinhas, elas estariam abrindo espaço para pensamentos absurdos? Verdades que não querem enxergar? Sentimentos que não querem sentir? Sabemos que não é fácil ser capaz de ficar com os próprios pensamentos por longos períodos de tempo (a tal dificuldade que encontramos enquanto meditamos), mas cá entre nós, em um mundo hiperconectado, é imperativo para a nossa saúde mental que a nossa mente se desconecte com frequência.
Saber apreciar sua própria companhia é a chave para uma maior autoconsciência, que então abre a porta para a mudança, afinal, é no vazio que se cria. Então fica aqui o meu convite para que você abrace o ‘ficar sozinho’ e crie esse hábito no seu dia a dia.